Deslocamentos entre bairros, cidades, países, continentes é certamente algo que nos uni aqui no @epelomundo. Dos motivos que nos levam a sair do nosso estágio de conforto para conhecer um novo local, a facilidade de acesso é fundamental ou, mais uma das atrações do local. Aqui no Brasil, embora tenha uma grande malha rodoviária, está se encontra centralizada nas principais cidades, normalmente capitais de estado, cidade portuária ou cidades que produzem bens de exportação. A ligação entre as grandes cidades é bastante fácil por rodovias e conta com um fluxo intenso no trajeto. É uma boa opção, principalmente no Nordeste, onde as capitais (com exceção de Terezina-PI), ficam no litoral com distancias percorríeis em poucas horas de viagem.
Para mim, uma das motivações da viagem é sim o caminho. Não só o deslocamento entre um ponto e outro mas o que tem no meio do caminho. E foi ai que comecei a viajar de carona. Pensei que viajando de carona, além de economizar uma grana com o transporte, conheceria a partir de quem vive cotidianamente “o caminho”, os pormenores da uma vida de viajante!
Para os amantes da literatura beatnik, Jack Kerouak com On the Road (1957), inspirou muitos jovens a trajar uma mochila nas costas, caminhar até uma estrada, esticar os braços e apontar para o sentido desejado esperando que algum motorista pudesse encostar o carro e dar carona.

Me encantava com as histórias que ouvia dos mais velhos, dos tempos em que viajavam para encontros, festivais, visitas familiares visitar a namorada mas, sempre ficava um pouco triste com o final da conversa, quando falavam carregados de saudosismo “Ah, que saudade daqueles tempos que eram tranquilos e sem tanta violência”. Nessa parte, não sei se a violência aumentou tanto ou foi a venda de aparelhos de televisão. E então experimentei pela primeira vez viajar de carona.
A situação foi a seguinte, em fevereiro de 2006, a banda Rolling Stones, fez uma apresentação na praia de Copacabana no Rio de Janeiro, no que muitos disseram ser o maior show aberto que já existiu! Achei que seria uma boa oportunidade de viagem. Peguei minhas coisas e fui. Com pouca experiência em viagens, e com muita confiança que tudo daria certo, comprei uma passagem para o Rio e cheguei, restando no meu bolso R$10,00. E ai que toda a história começou.
O show, lotadíssimo de gente, foi sensacional incrível. E depois, quando as guitarras foram desligadas, algumas fogueiras foram acesas na praia e alguns luais espontâneos apareceram.
A grande questão foi no dia seguinte, em que precisava voltar para Campinas mas, não tinha dinheiro. A praia de Copacabana, ainda muito cheia de gente, também abrigava o pessoal que se lançou para o show e não sabia direito como voltar. Pedi uma informação e peguei um circular que me levaria para a rodovia presidente Dutra (ligação Rio-São Paulo- BR 465) e quando desci em um posto de gasolina, indicação do motorista do circular, me deparei com um grupo de pessoas, também na expectativa de conseguir uma carona. Ali tinha pessoas do estado de São Paulo e também do Rio Grande do Sul e rapidamente nos unimos e numa espécie de cooperativa de caroneiros. Compartilhamos ali nossa alimentação e ajudávamos uns aos outros na tentativa de conseguir carona. Como havia bastante gente, demorou um pouco para que todos conseguissem carona e tive que dormir no posto.
No outro dia, após o café da manha, consegui minha primeira carona. Era um caminhão que estava transportando peças automobilísticas do Rio para São Paulo. Durante a viagem, ouvi algumas histórias sobre a rotina dos caminhoneiros e comecei a me surpreender com a maneira como o pessoal da estrada cria suas estratégias de localização e locomoção sem a necessidade de mapas rodoviárias, e como as referencias na estrada, pouco tem a ver com as referencias que encontramos nos mapas, como restaurantes familiares, entradas específicas para cidades e atalhos.
Sobre o viajar de carona, depois do tempo de Jack Kerouack, muitas formas apareceram, inclusive a internet se apropriando e criando comunidades grandes de compartilhamento de roteiros e vaquinhas para diminuir os custos. Mas “na BR”, como o pessoal chama as estradas do Brasil, ainda existe muitas pessoas viajando no dedão!
Se então, você não está no meio de uma viagem de passeio, ao cruzar com alguém pedindo carona, pense que pode ser uma grande oportunidade de construir uma história incrível. Sobre a segurança, conte com sua intuição
Boa viagem!
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Por Philipe Branquinho.