BEIRUTE, "PARIS DO ORIENTE": RELATO DE ESTAR EM UMA CIDADE EM MEIO A UMA REVOLUÇÃO POLÍTICA - estevampelomundo.com.br

BEIRUTE, "PARIS DO ORIENTE": RELATO DE ESTAR EM UMA CIDADE EM MEIO A UMA REVOLUÇÃO POLÍTICA

Há alguns dias, como tenho certeza que todos vocês já devem saber a esta altura, Beirute foi vítima de uma forte explosão em um galpão de seu porto, deixando inúmeros mortos e centenas de feridos.
Hoje, excepcionalmente, não vamos falar de programas de fidelidade e etc. Será um post diferente.
Em novembro do ano passado, por ocasião do destino, tive a oportunidade de ir ao Líbano que, à época, atravessava uma forte revolução política. Não obstante, estive presente em protestos pacíficos, conversei de perto com libaneses sobre seu país e hoje, com Beirute e o Líbano em tamanha evidência, trago aqui para vocês, a minha experiência de viagem àquele simpático país por onde tive a oportunidade de transitar no coração de uma revolução política. Quer saber como foi? Senta aí que lá vem conteúdo! 

Beirute
Skyline de Beirute, visto da Marina

A ROTA AÉREA AFETADA PELA GEOPOLÍTICA DO ORIENTE MÉDIO…

Antes de chegar ao Líbano estava na Jordânia. Voei de Amman até Beirute em um voo direto da Royal Jodanian. A distância entre as duas cidades em linha reta é de 148 milhas, ou 236km. Isto representaria um voo de aproximadamente 20 a 25 minutos em uma aeronave a jato. Entretanto, confiram abaixo a rota do voo. Volto em seguida com as devidas explicações. 

Beirute
Distancia em linha reta entre Amman, na Jordânia e Beirute.

Amman - Beirute
Rota feita pelos voos entre Amman e Beirute.

Pois bem, toda esta volta se dá por alguns motivos. Embora Jordânia e Israel tenham acordo de paz firmado entre si, o Líbano não reconhece Israel como estado. Logo, nenhum voo de/para o Líbano pode sobrevoar o espaço aéreo israelense. Igualmente, voos da Royal Jordanian não podem sobrevoar o espaço aéreo sírio. Em assim sendo, O único caminho viável para esta rota é descer de Amman até o mar vermelho, adentrar o espaço aéreo egípcio através da península de Sinai e seguir sentido norte até o Líbano sobrevoando o mar mediterrâneo por águas distantes do espaço aéreo israelense. Em síntese, um voo que levaria no máximo 30 minutos, por conta das questões geopolíticas do Oriente Médio tem duração aproximada de uma hora e quarenta minutos.
Uma curiosidade: reza a lenda que certa feita uma aeronave decolou do Cairo rumo a Beirute e por descuido do comandante adentrou em menos de uma milha no espaço aéreo israelense. Israel pouco importou-se, entretanto ao pousar em Beirute, devido a falha, por assim dizer, os passageiros não puderam desembarcar. A aeronave foi reabastecida, voltou ao Cairo e do Egito seguiu novamente para o Líbano, desta vez no caminho certo. Um verdadeiro transtorno para os passageiros. Vale lembrar que a veracidade desta história é controversa…

A CHEGADA 

Depois de um rápido e amigável trâmite de imigração, com acentuado sotaque árabe, o motorista de táxi, que me conduziu do aeroporto internacional de Beirute ao hostel onde me hospedaria pela próxima semana, me respondeu imediatamente com outra pergunta, em francês, quando lhe perguntei sobre a situação política no Líbano naqueles dias: não sente o cheiro? É de fumaça de pneus queimados; hoje os protestos foram intensos e a highway que nos leva e trás aqui ao aeroporto está bloqueada, precisaremos dar uma grande volta por caminhos secundários para chegarmos ao local da sua hospedagem! Bem, Por tais caminhos seguimos, não havia outra opção e, de fato, o tal cheiro de borracha queimada era bastante intenso. 
Desde a “explosão da revolução” vinha seguindo de perto, diariamente, através da Al Jazeera, da BBC e do L’Orient-Le Jour, principal jornal do Líbano em outro idioma que não o árabe, a crise política no país, e, até o dia anterior as coisas haviam acalmado-se: bancos, o comércio e as escolas já haviam voltado a funcionar. Entretanto, para azar meu – ou sorte – a situação política voltara a ferver: justo no dia da minha chegada, de norte a sul daquele pequeno e simpático país a situação política havia se agravado novamente e os mais diversos serviços haviam acabado de ser interrompidos. 
Uma vez acomodado no hostel e bem cansado de dias intensos na Jordânia, da onde estava chegando, resolvi dormir cedo para começar com todo gás a explorar Beirute no dia seguinte já pela manhã. 

AS IMPRESSÕES 

Banho e café da manhã tomados, iniciei cedo, e a pé, minhas descobertas naquela que é conhecida como a Paris do Oriente Médio.
Beirute é uma cidade simpática, com ares modernos, embora sustentada em três pilares: tradição da colonização francesa, hábitos relativamente discretos da cultura muçulmana e a modernidade dos costumes ocidentais. 
Beirute
A cidade é praticamente cortada pela famosa Rue de l’Armenie. Nela encontramos de tudo. E quando falo de tudo é de tudo mesmo. Desde simples cafés a lojas dos mais variados tipos (e preços), elegantes boutiques, salões de beleza, barbearias e por aí vai. 
Transitar por ali é uma experiência única, visto que cruzamos com todo o tipo de gente, desde muçulmanos vestidos em seus trajes típicos a pessoas mais de “vibe” alternativa com suas roupas coloridas e chamativas. Há na Rue de L’Armenie a primeira maison patisérie francesa PAUL instalada na cidade. Está lá desde 1889. É um charme só. Croissants, pains-au-chocolat e demais guloseimas são vendidas e feitas ali diariamente. Opções perfeitas para acompanhar um bom café. 

PRINCIPAIS ÁREAS

Tal qual como toda cidade grande (são aproximadamente 2.1 milhões de habitantes que ali vivem) tem suas “bolhas”. A área da marina, vizinha ao yacht clube, é lotada de restaurantes das mais variadas gastronomias. É para poucos e turistas. Ali, os preços não diferem muito das principais cidades turísticas do mundo. Esta área tem como expoente ali próximo o hotel Four Seasons, ladeado por enormes arranha-céus de natureza residencial e comercial.

Beirute
Marina de Beirute, vizinha ao Yatch Club.

O centro de Beirute não fica muito distante dalí. É uma área apenas um pouco menos requintada, por assim dizer. Entretanto bastante charmosa e de atmosfera única. Nele encontramos vários dos principais monumentos da cidade, mesquitas e a famosa Praça dos Mártires, ponto de encontro dos Libaneses no fim de tarde e palco de inúmeros dos protestos pacíficos que pude acompanhar durante a minha estadia em Beirute. 
Beirute
Ruas do centro de Beirute

Mais adiante, o bairro de Hamra. Nele, nós nos sentimos nos aos 70. Hippies dominam o local. Sheesha Cafés estão por todos os lados. É, igualmente um bairro dominado por estudantes. Com atmosfera alegre e descolada, Hamra conquista os olhares e atenção de qualquer um que passe por ali. 
Outro local bastante bacana, é o bairro de Rawcheh. Primordialmente residencial, a beira mar e com várias opções gastronômicas para todos os gostos e preços. É lá que fica o view point para as famosas Pigeon Rocks, um dos principais pontos turísticos de todo o Líbano. Local perfeito para apreciar um belo pôr do sol apreciando um bom narguilé. 
Beirute
Pôr do sol sobre as Pigeon Rocks.

SIMPATIA E CARISMA DO POVO LIBANÊS 

O povo libanês é, por natureza, sinônimo de simpatia e cordialidade. Amigos, fazem o possível e o impossível para ajudar ser gentis com o turista. 
Há aqueles que os consideram um pouco rudes. Eu, particularmente, discordo completamente, mesmo porque ao chegar em um país novo é essencial ao mínimo tentar esforçar-se um pouco para compreender a cultura local. Dito isto e respeitando o costume e os hábitos locais, a reciprocidade do libanês para com os visitantes é algo extraordinário. Aliás, tal cordialidade é característica típica dos países do Oriente Médio. Pelo menos ao meu ver. 
Vale ressaltar que ser brasileiro ajuda bastante no Líbano. Eles têm por nós um carinho e uma admiração muito grande. Conversam, e muito! Querem saber sobre futebol, como é o carnaval, o samba e etc. Os homens por sua vez perguntam sempre sobre as mulheres brasileiras, especialmente as cariocas da praia de Copacabana. 
É um povo que abre as portas ao turista e os recebe de braços abertos. Igualmente, são polidos e bastante hospitaleiros. 

ONDE ORIENTE E OCIDENTE SE ENCONTRAM 

É comum escutarmos em Beirute que a capital do Líbano é um ponto de encontro entre oriente e ocidente. Diferentemente da grande maioria dos seus vizinhos de origem árabe, a cultura muçulmana em Beirute é mais light, por assim dizer, visto que libaneses são bem mais tolerantes aos costumes digamos… progressistas do ocidente. 
Encontramos lado a lado em Beirute, e convivendo em bastante harmonia, os típicos cafés árabes e os autênticos cafés franceses, como o PAUL, por exemplo. E no meio disto tudo ainda há espaço para bares e pubs. Sim, no Líbano não há restrição alcoólica e é permitido beber na rua. Pelo menos se não é, objetivamente falando, passar a ser, uma vez que durante as agitadas noites da capital libanesa a bebida rola solta pelas ruas de Beirute. 

Beirute
Maison pâtisserie PAUL.

Alias, é uma cena muito comum vermos jovens e até senhores e senhoras de meia idade aglomerados nos principais points de encontro e conciliando uma boa cerveja (ou arak) com um narguilé. Os papos seguem madrugada a dentro.
Apesar de ser um país da maioria árabe, a proximidade cultural com o ocidente é tanta que o Líbano deixou de lado o uso do calendário muçulmano e adotou o calendário ocidental.
Beirute
Calçadão no coração de Beirute. Interditado por conta dos protestos.

Igualmente, uma outra curiosidade chama  bastante atenção: os cassinos. Sim, eles são liberados no Líbano. Até onde sei, este pequeno e simpático país é o único do mundo árabe que tem legalizado o jogo de azar. E com o apoio da população. Libaneses enxergam nos cassinos uma boa fonte de renda e de arrecadação de tributos, paralelamente, e principalmente, o fator econômico da geração de empregos diretos e indiretos. 

ESTAR EM BEIRUTE EM PLENA REVOLUÇÃO 

Os protestos ecoaram no Líbano contra a sua classe política e a corrupção entranhada na máquina estatal. A demanda inicial era a retirada de impostos recém implementados sobre ligações de aplicativos como WhatsApp, Skype e etc. Como num rastro de pólvora os protestos multiplicaram-se rapidamente de ponta a ponta no país. O governo cedeu e retirou a tributação, mas já era tarde. Num movimento bastante parecido com o que ocorreu no Brasil em 2013 pelos vinte centavos, as demandas explodiram e toda a classe política foi fortemente alvo de praticamente todo tipo de protesto. No final das contas todos protestavam contra tudo e contra todos, perdendo assim, ao meu ver, o norte dos protestos iniciais. 
O quebra-quebra foi inevitável, porém, com o isolamento de várias áreas do centro da cidade (foco dos protestos) a situação hora agitava-se, hora acalmava-se. De todo modo, os danos causados foram relativamente baixos perto do potencial que poderiam ter chegado, sendo que tais atos de vandalismo eram coordenados por pequenos grupos mais radicais. 

Beirute
Barricadas em meio as principais ruas do centro de Beirute.

É importante dizer: a grande maioria da pululação libanesa deu um show de civilidade e democracia colocando milhares de pessoas nas ruas e protestando de maneira pacífica. 

PARTICIPANDO DAS DEMONSTRAÇÕES PACÍFICAS

Como todo viajante, não turista, não poderia ficar de fora das demonstrações pacíficas. Pois bem, como observador acompanhei de perto (e de dentro) muitos desses protestos. E posso adiantar: foi uma das experiências mais vibrantes e culturalmente ricas que já tive na vida. 
Beirute
Vi famílias reunidas conversando sobre a situação política do seu país, grupos de amigos igualmente fazendo a mesma coisa e em praticamente todas as “rodinhas de conversa”, um narguilé e boa música libanesa não poderiam faltar. 
Igualmente, adentrar a esta situação gerou-me lembranças que ficarão guardas pro resto da minha vida. Viajante, e enxerido que sou, aproximei-me na cara dura de várias pessoas e delas escutei relatos incríveis. É um povo politizado que, infelizmente, não merece o governo que tem. Igualmente, mostravam-se esperançosos quanto ao futuro e manifestavam absoluta certeza que dias melhores viriam. 
Beirute
Sigamos: em uma conversa com uma família local durante um protesto, em meio a baforadas de narguilé tive ali, a céu aberto, uma verdadeira aula história do Líbano contada por um dos seus com bastante orgulho. Confesso que emocionei-me e nunca me esquecerei daquele dia. 
Infelizmente, repito. Assim como no Brasil de 2013, ao meu ver, a situação perdeu o foco por completo da pauta inicial, quando do dia para a noite, todos começaram a protestar contra tudo e contra todos. Onde foca, expande. Eles, assim como nós em 2013, não focaram.

Beirute
Protestos pacíficos.

Beirute
Protestos pacíficos.

LIÇÕES DE BEIRUTE

São muitas. Turistas precisam quebrar o estereótipo de que o Líbano é um país inseguro, onde seria inviável viajar sozinho, que está sujeito a atentados o tempo inteiros e todas essas falsas informações e convicções que a maioria das pessoas possuem. 
Beirute
Conforme pontuei, o Líbano é sim um país seguro e você, passada a pandemia e o caos desta explosão, pode seguir tranquilo para lá sem receio algum. Igualmente, a hospitalidade do povo libanês é algo bastante calorosa é que contrasta com muito daquilo que costumamos ver acerca do país nos principais meios de comunicação.
Beirute é bela, receptiva e vibrante. Poder conhecê-la durante o período da revolução poderia, a princípio, ser um grande problema. Entretanto, mostrou-se exatamente o contrário. 
Passada toda esta fase caótica que o país atravessa durante a recente explosão no porto de Beirute, bem como a pandemia do novo coronavírus, tenho a certeza que para lá voltarei novamente. 

Beirute
Pôr do sob sobre a capital libanesa.

O FUTURO 

Tem por ofício, o futuro, ser incerto. Infelizmente, ou felizmente…
A força, garra, determinação e energia do povo libanês são elementos que me dão uma enorme certeza interior que tudo isso passará mais breve que o estimado por cientistas políticos. Espero estar correto. Mas como pontuei acima, tem por ofício, o futuro, ser incerto. 
Resta-nos torcer e aqueles de fé religiosa orarem pelo pequeno e simpático país. 

PARA FINALIZAR… 

Bem, sou eternamente grato ao Líbano por ter me dado a chance de conhecer sua cultura e seu povo em um dos momentos mais delicados da sua história. Seu povo, seu calor humano e cultura tocaram-me profundamente. Tive a experiência de viajar por um país, à época, em plena revolução política e tal fator, por mais paradoxal que seja, aproximou-me ainda mais da cultura local.
Beirute
Há alguns dias, Beirute, a “Paris do Oriente” sofreu um forte revés. Torço, de coração, para que toda essa avalanche negativa de fatos que vêm pairando sobre o simpático país, onde oriente e ocidente se encontram, passe o mais breve possível. Força, Líbano!
E você, amigo leitor e viajante, já esteve no Líbano? Se sim, conta pra gente como foi sua experiência por lá. Se não, e ficou com alguma dúvida não hesite em nos perguntar. Em ambos os casos basta postar um comentário na caixinha logo abaixo do post! 

QUEM SOU EU?

Ah! Como vocês devem ter notado sou novo na área. Estou aqui precisamente desde meados de maio. Se quer me conhecer melhor, saber quem eu sou e saber como eu vim parar aqui basta dar uma sacada no meu primeiro post, quando fui oficialmente lançado aqui no Estevam Pelo Mundo. Para isso basta clicar aqui. Igualmente, se gostou de mim ou se já quer ir conferindo algumas das minhas fotos de viagem e de algumas exaltações proporcionadas por milhas e pontos basta dar um follow lá no Instagram. Meu nome na rede é @lucasmcv 😉
Por fim, um grande abraço e até o próximo post!
 
Lucas Cabral
 
 
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Escrito por Lucas Estevam

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